Vamos pensar na cultura dos ciganos: nômade e ágrafa. Ou seja, eles se deslocavam, viajavam o tempo todo, não tinham residência física, e também não registravam suas histórias, sua cultura em papel... era tudo verbal. 

Agora imagine que você vai criar algo, neste caso, um oráculo, isso mesmo, você vai criar, ainda que não desenhe, você vai instruir o desenhista a partir das suas referências, da sua bagagem cultural, certo?! Logo, não faz sentido o povo cigano criar um sistema simbólico utilizando, por exemplo, o emblema da casa (carta 4), do livro (carta 26) e da carta (carta 27), pois isso não fazia parte do cotidiano deles.

Com base em tudo isso, então eu te pergunto: como o "baralho cigano" pode ter sido criado pelos ciganos?

Uma explicação plausível seria a utilização desse baralho em algumas religiões que cultuam as entidades ciganas (guias espirituais), e então começa um movimento de sincretismo relacionando cartas e orixás. Mas isso é só uma hipótese...

Então onde surgiu o "baralho cigano"? 

Surgiu em Nuremberg (Alemanha), no ano de 1798, como um jogo de tabuleiro, que poderia ser utilizado como entretenimento ou adivinhação. As cartas foram elaboradas por Johann Kaspar Hechtel com o nome "Jogo da Esperança", pois ganhava quem chegasse primeiro na casa da âncora (carta 35 e símbolo de esperança). Mas Hechtel morreu em 1800 e nem testemunhou o boom desse baralho.  

Foi então que, em 1845, uma editora publicou o mundialmente conhecido Petit Lenormand, pois o nome baralho cigano é só no Brasil, já falamos dessa hipótese anteriormente. Bem, e por que esse título? Na França, existia uma cartomante muito conhecida, que atendia muitas personalidades, inclusive Napoleão Bonaparte, e seu nome era Marie Anne Adelaide Le Normand. A editora sabia disso e numa estratégia de marketing (não era um termo da época, talvez golpe de mestre fosse mais apropriado...) lançou o baralho Petit Lenormand com um livreto de instruções assinado por Philippe Lenormand, mas tudo indica ser um pseudônimo, mais marketing. 

Há boatos de que Mlle Le Normand usava esse baralho nas suas consultas, mas não há evidências disso, até porque a célebre cartomante faleceu dois anos antes da criação do Petit Lenormand. Falam também que ela o teria criado, mas em nenhum dos seus livros publicados (sim, Mlle Le Normand também era escritora), há alguma referência. E por que ela não divulgaria seu próprio deck sendo uma cartomante pop? Ela teria ganhado mais fama e dinheiro... tudo isso reforça que ela não é a idealizadora, apenas usaram seu nome. 

Avançando na história, o Petit Lenormand chega ao Brasil, em meados de 1856, seguindo as orientações tradicionais do livreto europeu e, aos poucos, começa a ser associado à religião, sofrendo mudanças de significados para ter correspondência com os orixás. Mas como vimos, a sua origem não ocorreu em nenhuma doutrina específica. A partir daí, surgem duas escolas para distinguir essas diferenças, a Escola Europeia com os significados tradicionais e a Escola Brasileira com o sincretismo. 

Qual é a melhor? Esse não é o ponto, o que importa é a mensagem que as cartas vão passar. O oráculo vai se apresentar de uma forma que a(o) oraculista consiga interpretar da melhor maneira aquilo que a(o) consulente precisa saber sobre determinado assunto, independentemente, da escola utilizada. Eu leio pela Escola Europeia, pois faz mais sentido pra mim, mas é uma questão de escolha.

Nos últimos anos, esse deck tornou-se o queridinho porque o seu protótipo (veja na imagem deste artigo) está exposto no Museu Britânico. Se tiver a oportunidade, faça uma visita, ainda que online. 

Fontes: Karla Souza, do Falando Lenormandês, e Alexsander Lepletier, do Lenormando.

Rainhas do Tarot utiliza cookies para entregar uma melhor experiência durante a navegação Saiba mais »
Atendimento ao Cliente
Não realizamos consultas por Whatsapp